terça-feira, 6 de novembro de 2012

Amazônia precisa organizar sua economia, diz geógrafa


Daniela Chiaretti, no Valor Econômico


Amazônia precisa organizar sua economia, diz geógrafa Daniela Chiaretti, no Valor Econômico "A Amazônia já é verde. O que ela precisa é de uma economia." A frase da geógrafa Bertha Becker, referência nacional nos estudos da Amazônia, brincava com a expressão "economia verde", vedete de relatórios internacionais recentes e tema central da Rio+20, a conferência ambiental das Nações Unidas que o Rio de Janeiro sediará no ano que vem. "Na Amazônia não há uma base econômica organizada, não existem praticamente cadeias produtivas", prosseguiu, falando a professores e estudantes ontem, durante seminário na Universidade de São Paulo. "A verdade precisa ser dita: neste sentido, a Amazônia não mudou nada." Ela mencionou um mapa recente do IBGE onde fica claro que o número de estabelecimentos produtivos na região é mínimo. "Uma das grandes lacunas na Amazônia é a do empreendedor consciente", seguiu. Defensora de um modelo produtivo com foco na região, a professora emérita de geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) acredita que para que a floresta sobreviva é preciso encontrar um meio de fazer com que "tenha competitividade com as commodities". Uma controvérsia durante o seminário "A Gestão da Amazônia", mesmo nome do livro do professor Jacques Marcovitch lançado ontem durante o evento, ficou por conta do carbono - que a floresta emite sob a forma de gases-estufa quando é queimada, ou sequestra, quando as árvores crescem e permanecem no solo. "O nosso problema é fazer um esforço para o desenvolvimento da região. E aí vou pegar Redd para não desmatar?", questionou, referindo-se ao mecanismo de Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação. O conceito de Redd, que ganhou forma na conferência climática de Cancún, em dezembro, prevê alguma recompensa para quem não desmata e, portanto, não lança mais gases-estufa à atmosfera. "Com Redd não ataco a causa do desmatamento. É um balde de água fria no estímulo deste desenvolvimento novo." Virgilio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável e um dos debatedores, discordou. Viana é entusiasta dos mecanismos de Redd atrelados a mercados de carbono, onde, simplificadamente, a floresta fica em pé a troco de que outros lugares (ou países) possam emitir. "A valoração de serviços ambientais é a melhor oportunidade da história da Amazônia", disse. "Temos que colocar dinheiro na floresta." Bertha Becker reagiu: "Jamais fui contra a valoração dos serviços ambientais da floresta. Sou contra a ênfase só no carbono", disse. "A floresta é riquíssima. E esta riqueza está sendo negligenciada em função da ênfase no mercado de carbono", reforçou. "O mais importante é mudar o padrão de desenvolvimento da região. E não ser pago para não desmatar." Ricardo Abramovay, professor titular do departamento de economia da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, trouxe outra perspectiva ao debate. "Não se pode ser ingênuo", pontuou, referindo-se ao modelo de exploração da Amazônia existente até agora. "A mentalidade é que tem que se alterar." O pesquisador citou o panorama social na região: só 12% dos domicílios têm acesso a saneamento básico, a população ao lado de hidrelétricas não tem luz e água potável é raridade. A Ciência não escapou ilesa às críticas. Abramovay lembrou que os institutos na Amazônia vivem em "uma precariedade extraordinária". Bertha Becker lembrou que a Ciência da Amazônia se caracterizou pela "cultura de inventários e poucas instituições, mesmo que de boa qualidade." Com passos positivos nas áreas de clima e hidrologia, por exemplo, a aplicabilidade da pesquisa não avançou. "A pesquisa de fármacos é fundamental. E é conversa fiada que não temos competitividade. Temos um mercado interno
grande", disse. A professora também enxerga oportunidades em estudos de dermocosmética, bioenergia, economia florestal, energia solar e eólica.

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